sábado, 17 de janeiro de 2004

Olhos jovens

Pela frequência com que escrevo, raros devem ser os leitores deste blog... peço desculpa, mas não tenho mesmo tempo para escrever mais vezes. Agora o assunto de hoje...
Já repararam bem nos olhos dos animais jovens? Refiro-me a mamíferos, de qualquer espécie. Crianças humanas, gatinhos, cachorros, chimpanzés, gorilas e outros primatas bebés, tigres, leões, chitas (estas são mesmo queridas), qualquer bebé. Todos eles têm aqueles olhos, olhos assombrados, olhos abertos ao mundo, curiosos, atentos, inocentes. Olhos grandes, que mostram lá no fundo um fascínio, uma admiração, um encanto, uma vontade de aprender mais, de saber mais, de fazer mais. Nunca repararam?
Olho para os olhos de um gatinho pequeno e quase o ouço dizer: "Olá, quem és tu? És tão grande! Como é que vim aqui parar? Como volto para a minha mãe? Posso brincar com essa coisa comprida que tens na cabeça?......" Um cachorrinho diz-me:"Olha, já viste?, as minhas patas são grandes, ainda tropeço, mas já posso correr ao teu lado! Vamos brincar? As tuas sapatilhas são boas para comer? Atira a bola!"
Já viram aqueles documentários da vida selvagem? Por exemplo, um grupo de chimpanzés. Os pequenos brincam uns com os outros, sobem aos ramos mais baixos, e depois de uma briga voltam aos guinchos aos braços das mães, que os acolhem no seu colo. E eles espreitam, com os seus olhos límpidos e assombrados, por cima do ombro da progenitora. Ela, como os outros adultos, como nós, observa-o com olhos mais velhos, mais calmos, mais cansados. Já viu muito, já aprendeu muito, já sabe muito.
Crescemos e aprendemos. Os nossos olhos já não espelham aquele fascínio, aquele assombro. Muitos de nós até já não o sentem. Mas acredito que aqueles olhos jovens ainda espreitam nos nossos olhos maduros, por mais que tentemos escondê-los. E já vi um vislumbre de juventude em alguns olhos velhos. São aqueles que, mesmo ao fim de uma vida inteira de lições duramente aprendidas, ainda se sentem admirados com este mundo, ainda querem saber mais, ainda sonham.
Por isso, na próxima vez que virem um jovem, seja ele de que espécie for, reparem bem nos seus olhos. E lembrem-se de quando os vossos também se abriam assim.