quarta-feira, 22 de setembro de 2004

O verdadeiro Espírito Olímpico

À semelhança do que fiz com os Jogos Olímpicos, tenho seguido com alguma atenção as transmissões em directo dos Paralímpicos.
Para além de estar a aprender bastante sobre as modalidades paralímpicas, e me espantar todos os dias com o que os atletas deficientes podem alcançar, houve algo que me agradou imenso testemunhar.
Nota-se uma grande cumplicidade e solidariedade entre os atletas, não só compatriotas como também de países diferentes. Cumprimentam-se no fim das provas, seja com um aperto de mão, um par de beijos ou um abraço efusivo. Há um maior convívio dentro do estádio (que é o que podemos ver) do que entre os atletas que vi participar nos Jogos Olímpicos, que mostravam maior individualismo.
É bonito ver que estes atletas participam pelo amor ao desporto e pela vontade de dar o seu melhor, sem um espírito competitivo exagerado.
Um exemplo das maravilhas de todos os dias.

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

A história do Santalideus

Quando era pequena, o meu pai contava-me uma história que já o seu pai lhe contava:

"Em tempos que já lá vão, seguiam numa estrada dois cavaleiros. Ao chegarem à margem de um rio, encontraram um rapaz sentado junto a uma fogueira sobre a qual havia uma panela, cuja tampa o rapaz abria de vez em quando.
Os homens cumprimentaram o rapaz e um deles perguntou:
- Que estás a fazer, rapaz?
- Saiba Vossa Senhoria que como os que vêm e espero os que hão-de vir.
Os cavaleiros olharam um para o outro, confusos com aquela resposta.
- Que queres dizer com isso de comeres os que vêm e esperares os que hão-de vir?
Então o rapaz levantou a tampa da panela e mostrou o que lá havia dentro. Estava a cozer feijões, e à medida que a água fervia, apanhava os que subiam, comendo-os, esperando pelos que "haviam de vir".
"Rapaz esperto", pensaram os cavaleiros.
- Olha lá, sabes dizer-nos se podemos passar este rio a vau com os nossos cavalos?
- Saiba Vossa Senhoria que o gado do meu pai atravessa sempre a direito.
"Se o gado do pai dele atravessa a direito, então nós não devemos ter problemas..."
Lá se aventuraram no rio e... foram ao banho. Depois de muito lutar para tirar os cavalos da água, totalmente encharcados e exaustos, chegaram por fim ao pé do rapaz e perguntaram-lhe:
- Mas que raio de gado é o do teu pai?!
E o rapaz, imperturbável:
- Saiba Vossa Senhoria que o gado do meu pai são patos.
Foi aí que o cavaleiro teve uma ideia: "Espera aí que já vais ver como é..."
- Já que és tão esperto, não queres vir trabalhar para mim?
O rapaz concordou e foi com eles.
Depois de andar um tempo, aproximaram-se de um palácio, e o cavaleiro virou-se para o rapaz e disse-lhe:
- Se vais trabalhar para mim, ficas desde já avisado. Hoje vou ensinar-te umas coisas, e amanhã vou perguntar-te o que te disse hoje. Se não me souberes responder, serás castigado.
O rapaz concordou.
- Então começamos já. Este palácio que estás a ver, é a minha casa, o meu castelo. Nele mando eu, sou o Santalideus. Aquela senhora que está à porta à nossa espera, é a minha mulher, a Santalidade.
Entretanto chegaram e entraram. Logo veio um gato encostar-se às pernas do dono:
- Este é um papa-ratos.
Entraram numa sala e Santalideus apontou para o lume que ardia na lareira e disse:
- Aquilo que ali arde é a escarlência. E isto - apontou para um copo de água - é abundância.
Entrando no quarto, indicou a cama:
- Isto é uma estância e lá em cima - apontando para as vigas - estão as traquitanas.
Descalçou-se e mostrando os sapatos:
- Isto são ganha-fatos e estas são as tiras-viras - tirando as meias - Agora vai dormir e se amanhã não te lembrares de tudo o que te disse, vais-te ver comigo!
E a casa ficou em sossego.
De madrugada, com tudo ainda a dormir profundamente, o rapaz pegou no gato, atou-lhe um pedaço de estopa no rabo e pegou-lhe fogo, atirando o animal para o quarto do patrão e fechando a porta.
Disse então em voz alta:
- Alevanta-te Santalideus e mais a tua Santalidade. Calça as tuas tiras-viras e mais os teus ganha-fatos, q'aqui vai o papa-ratos c'a escarlência ao rabo. Se na lh'acodes c'abundância, leva-te o diabo a estância e as traquitanas, tudo por aí abaixo!"

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Olho cósmico

Mais uma imagem do Hubble, a que saiu este mês na página do Hubble Heritage Project: a nebulosa do olho do gato.
A primeira nebulosa planetária a ser descoberta, esta enorme concha de gás e poeira encontra-se a cerca de 3000 anos-luz. É o que resulta da morte de uma estrela semelhante ao Sol, que ejecta suavemente o gás das suas camadas mais exteriores, formando esferas de material. Esta em especial foi lançando porções de tempos a tempos, numa espécie de pulsação, no que resultou este aspecto em camadas.
Uma imagem hipnotizante. Com diz na descrição da imagem: ...the so-called Cat's Eye Nebula looks like the penetrating eye of the disembodied sorcerer Sauron from the film adaptation of "The Lord of the Rings."

O homem era uma autêntica loja dos chineses...

Há alguns anos, saiu nas Selecções do Readers Digest este texto em rodapé:

"Pau para toda a obra
Num número de 1960 da Revista da polícia Portuguesa, fui encontrar a cópia fiel de um prospecto histórico mandado imprimir e distribuir por volta de 1910 pelo regedor da freguesia da Sertã, Manuel Ferreira:
Manuel Ferreira, surgião, rigedor, comerciante e agente de enterros.
Respeitosamente informa as senhoras e cavalheiros que tira dentes sem esperar um minuto, apelica cataplasmas e salapismos a baixo preço, e vixas a 20 réis cada, garantidas. Vende plumas, cordas, corta calos, janetes, aços partidos, tosquia burros uma vez por mez, e trata das unhas ao ano. Amolla facas e tizoiras, apitos a 10 réis, castiçais, fregideiras e outros instrumentos musicais a preços reduzidos. Ensina gramática e discursos de maneiras finas, acim como cathecysmo e oretographia, canto e danças, jogos de suciedade e bordados. Perfumes de todas as qualidades. Como os tempos vão maus, pesso licença para dizer que comecei também a vender galinhas, lans, porcos e outra criassão. Camisolas, lenços, ratueiras, enchadas, pás, pregos, tejolos, carnes, chourissos e outras ferramentas de jardim e lavoira, cigarros, pitrol, augardente e outros materiais inflamáveis. Hortaliças, frutas, músicas, lavatórios, pedras de amolar, sementes e loiças e manteiga de vaca de porco.
Tenho um grande çurtimento de tapetes, cerveja, velas e phosphoros, e outras conservas como tintas, sabão, vinagre, compro e vendo trapos e ferros velhos, chumbo e latão. Ovos frescos meus, paçaros de canto como moxos, jumentos, piruns, grilos e deposito de vinhos da minha lavra. Tualhas, cobertores e todas as qualidades de roupas. Ensino jiografia, aritmética, jimnástica e outras chinezisses.
- Artur Varatojo, in Telejogos, Portugal"