sábado, 24 de abril de 2004

Tão pequenina...

Como aluna de Fisioterapia, visitei recentemente o Centro de Paralisia Cerebral de Coimbra.
Antes de mais devo explicar o que é a paralisia cerebral, que a maioria da população associa imediatamente a atraso mental. Tal não é verdade. Paralisia cerebral resulta de uma lesão no cérebro, antes, durante ou depois do parto (até aos dois anos), lesão estática (significa que não aumenta nem diminui ao longo do tempo), cujo resultado se reflecte no movimento, coordenação e/ou equilíbrio.
Pode haver também atraso mental, mas não necessariamente. Muitos indivíduos que sofrem de paralisia cerebral são tão ou mais inteligentes que nós. O problema é que, por não controlarem as expressões faciais ou mesmo a voz, podem aparentar uma deficiência mental.

Enfim, avançando, durante a minha visita tive a oportunidade de observar a sessão de fisioterapia de uma menina de 5 anos, cujo nome não vou mencionar por motivos óbvios. É uma criança muito simpática que não consegue falar (quase nada), mas que consegue comunicar. Tem vários problemas a nível motor, não consegue andar, quase não se aguenta de pé e tem uma enorme rigidez muscular (entre outros problemas). No entanto tem progredido, pelo que nos disse a fisioterapeuta.

Mas o que mais me impressionou foi a inteligência da pequena e a sua força de vontade.
Quase no fim da sessão, a terapeuta foi buscar um brinquedo e enquanto a menina brincava ia-a estimulando para se manter de pé. Era difícil, exigia esforço e a criança estava também entretida conosco e com o brinquedo.

Foi então que entrou outra terapeuta, mais velha, que falou com a menina com se fosse uma adulta e lhe disse para prestar mais atenção ao exercício que à brincadeira. A pequena ficou séria, e foi visível o esforço que fez para se manter direita e em pé, sem ajuda. Portou-se muito bem, mas começou a fazer cara de choro e acabou por cair no colo da primeira terapeuta, exausta e a chorar. Via-se que lhe tinha custado muito, mas que tinha feito o seu melhor.

Não sei se chegará a andar um dia, ou se conseguirá falar, mas fiquei realmente impressionada com aquela inteligência e força de vontade que mostrou, principalmente sendo ainda tão pequenina.
Pode ser até apontada como uma lição de vida: um ser tão jovem a dar um exemplo de coragem, tendo à partida tudo contra ela e mesmo assim lutando e dando o seu melhor.

Ainda agora me chegam as lágrimas aos olhos quando me lembro da expressão daquela menina.

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