domingo, 1 de fevereiro de 2004

Columbia, um ano depois...

Fez hoje um ano que o vaivém espacial Columbia se desintegrou. Hoje já quase ninguém se lembra. Muitos não devem sequer ter prestado muita atenção na altura. O programa do vaivém estava já muito banalizado, e o terrível desastre de Challenger tinha já sido há muito tempo.
Foi por isso um choque para mim, naquele sábado, quando ao preparar-me para sair ouvi um especial de informação na televisão.
"Perdeu-se o contacto com o vaivém espacial Columbia". Olhei para o écran e gelei. A imagem mostrava um rasto sinistro num céu azul, destroços em chamas a cair.
Ai não!, exclamei, não pode ser! Aquilo não podia ser real, o shuttle quando regressa não deixa aquele rasto. "Não me digam isso...", pedi, sabendo bem que era inútil.
A minha mãe, acho que ainda não tinha percebido bem o que se passava, perguntou se iam pessoas lá dentro. E nesse momento vieram-me lágrimas aos olhos.
Rick D. Husband, comandante; William C. McCool, piloto; Michael P. Anderson, comandante de carga; David M. Brown, especialista de missão; Kalpana Chawla, especialista de missão; Laurel Blair Salton Clark, especialista de missão; Ilan Ramon, especialista de carga...
Sim, mãe, sete pessoas.
"Coitados, imagina a sua aflição" Foi demais! "Eles já estão mortos, mãe!"
Demasiada fúria, demasiada tristeza. Saí, e passei uma tarde enervante. Queria saber o que se passara, ver as notícias, ouvir os especialistas, e não havia uma única televisão por perto.
Uma missão estritamente científica, incluindo experiências europeias sobre o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório e outras sobre o cancro. Pesquisa científica que reverte a favor de todos nós. Que pensa o mundo que eles andam a fazer por lá? Gastam balúrdios para flutuar em microgravidade e brincar com bolhas de líquido?! Quantos de nós não teriam já morrido se não fosse a tecnologia espacial?
Imagens tristes. Um capacete chamuscado. Um emblema de missão que comove o homem que o mostra à câmara.
A missão começou mal. Na descolagem caiu um pedaço de espuma isolante do tanque principal e atingiu a asa esquerda. Fico chocada. Aqueles técnicos costumam prestar atenção à mais pequena minhoquice, o ritmo cardíaco ou a pressão arterial de um astronauta, mas não procuraram determinar as consequências daquele incidente.
Por fim, o relatório final do inquérito aponta graves problemas na estrutura interna da NASA. Há que mudar, há que simplificar, há que inovar e melhorar a eficiência.
Agora Bush resolveu apostar no programa espacial. Eleições à porta, Marte por tudo quanto é lado. Esquece-se que uma das suas primeiras acções quando chegou à Casa Branca foi cortar no orçamento da NASA.
Agora já passou um ano. Mas ainda me lembro, muitas vezes, do desgosto que tive, e da incompreensão que encontrei. Mortes assim, inesperadas, mas que podiam ter sido evitadas, revoltam-me, desesperam-me, tornam-me mais amarga. O nosso mundo pode ser belo. Mas poucas vezes somos nós os responsáveis.
Ficam os resultados do trabalho da última tripulação do Columbia. E imagens belíssimas que recolheram em órbita. Apesar de tudo, cumpriram o seu sonho. E morreram ao regressar a casa, numa límpida manhã de sábado.
Esta foi a minha pobre homenagem.

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